Acerca de mim

Amarante, Portugal

terça-feira, 25 de novembro de 2008

"Símbolos Negros"

Símbolos negros que reflectem no obscuro da noite e que me talham o destino num fino fio de lã, tão leve quanto o fio da minha vida.
Vida de sete espelhos partidos, reflectidos em sete gatos pretos, numa mesa de treze lugares.
É neste local que o meu corpo se perde e se sente enclausurado e perdido. Amarrado com fios de algodão não se consegue libertar do abismo inevitável … Luta ferozmente pela vida!
Mas o reflexo daquilo que não queres ver, nem ter, aproxima-se na busca de uma dor infernal que parece cada vez mais real. Escorpião negro que finalmente mutila o corpo, matando os desejos que possuía…
O escorrimento suave e silencioso daquele fluído no chão, reflecte nos pedaços de espelho um mar vermelho de uma velha Europa, cansada do quotidiano da vida. O algodão encharcado continua a não deixar libertar-me. Esbaforida de uma luta tórrida e esmagadora o meu corpo está quase a dar de si…
Este aspecto começa-me a afectar a mente, que se vê na abertura de uma caixa silenciosa. Qual caixa de Pandora?!
Se vos dessem a chave que me deram, sete vezes ireis pedir, sete vezes ireis desejar, sete vezes ireis suplicar e sete vezes ireis implorar, que fosse Pandora.
Vida cruel e avassaladora, para que queres viva? Para que queres que seja real?
No mundo existe, a alegria e a tristeza, a noite e o dia, o branco e o preto, a luz e a escuridão, o homem e a mulher… De qual faço parte? Talvez a mulher que sou na escuridão da noite, tenha como o preto a cor da minha tristeza!
A réstia de sangue que ainda me corre nas veias, tende a secar na tua indiferença e silêncio no juízo que fazes da minha vida.
Os diamantes brilhantes e raros do teu coração, não passam de metal reles, simples e búzio que me enganou a mente e o coração todo este tempo.
Vida cruel e avassaladora, para que queres que viva?
Tudo me deste e tudo me tiraste … Qual o pecado cruel que cometi, para ser vitima de tamanha dor? …
Responde-me por favor, pois tenho a mente praticamente enlouquecida…

Continuo à espera de resposta… Mas os símbolos negros continuam a reflectir o obscuro da noite, e só a eles cabe a luz do meu destino!


CM
Novembro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

(...)

Hoje procurei-te, e não te encontrei…
Chamei por ti, e não me respondeste …
Perguntei por ti, e não te viram …
Pedi para te chamarem, e não te conheceram …
Voltei a chamar, e não me ouviste …
Estrela magnífica, preenchedora dos meus sonhos, que irradias em volta o esplendor daquilo que és, não te escondas, deixa transparecer toda a beleza que tens e que me hipnotiza.
Onde andas luz da minha vida? Porque te escondes?
Volta, sai de onde te encontras enclausurada e amarrada para o mundo…
A tua ausência é cruel, e deita-me para a profundidade negra de uma incerteza que me atormenta e me devora a mente, deixando-me no limiar de um precipício sem fim, onde o alcance desse fim é afiadamente mortal.
Numa ânsia de te encontrar, voltei a procurar-te…
Mas, …
Voltei a não te encontrar…
Num desespero de te perder, continuei a viver de uma forma morta, morbidamente indesejável.
Tic tac… Tic tac…
O tempo passou e não te vi…
CM
Outubro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

“Diário”

Hoje saí e vi-te!
Lá estavas tu bela e resplandecente como sempre.
O teu brilho ofuscava a escuridão e o negrume contornante do meu corpo e transmitia numa fugaz existência a paz e a harmonia que te envolve.
Em mais uma triste e rápida viagem onde as hastes agrestes do trajecto, adjacentes à linha que calco com negras esferas, se rendem à tua magnificência, contemplei a tua simples existência.
Numa súbita mudança de direcção deixei de te ver, perdi-te e tudo se fechou novamente em meu redor. Nem o mais lindo espelho de água conseguiu emanar em mim a beleza calorosa e ofuscante que tu me transmites e me despertas…
Num vislumbrar casual com o horizonte reconheci-te novamente para nunca mais querer perder-te!
Realmente esplendorosa!
Imagem de tela pintada no horizonte, que tem vida fervilhando dentro de si…
A sua movimentação no acompanhamento de uma negra folha de papel transcende o artificial que a rodeia.
Tímida e subtilmente atrevida, faz jogos de “esconde esconde” de uma forma inteligente de se mostrar.

Perde-se na névoa da noite, mas encontra-se no brilho do horizonte…
(…)

CM
Outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Esfera cruel"

Pregada numa esfera estonteante, em permanente movimento de rotação e translação, visualizo em volta um pisca-pisca incessante, numa realidade virtual.
Brilho intenso que me devora o ser que sou e me transporta para o milagre da vida, deixando-me sempre suspensa na ponte invisível de passagem.
Mas esta é sempre interrompida pela linha divisória, que me divide o corpo e a mente numa invasão paralela ao mundo em que vivo.
Quando acordo de um mundo irrefutável, parece que me vejo despedaçada, como farrapos estilhaçados pelos cortes de uma lâmina sorridente, que vagueia e enterra no meu corpo os entalhes de uma curvatura escondida.
Vil e venenosa impregna-se em mim e devora-me. Sou simplesmente mais uma doce relíquia servida em bandeja de prata para saciar os apetites mais vorazes.
O corte é lento e minucioso, numa forma de poderem saborear e aproveitar o expelir da essência transmitida por mais uma doce e frágil vitima.
Esfera cruel, que giras e não paras!
Não paras para terminar com este sofrimento doentio e incontrolável…

CM
Outubro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

"Nascer de mais uma noite"

Desassossegada e inquieta numa viagem que se prolonga no horizonte, a minha memória repassa imagens de vida descalça…
Alma ferida,
Alma trespassada, por um punhal invisível que nos dilacera à sua passagem e que tenta impor e buscar aí o reconforto de um amor distante, impossível de alcançar.
Vejo,
Revejo,
Torno a ver, e insisto numa busca perdida vislumbrar a essência do ser que sou…
A paisagem traduz-me um dourado de fim de dia e avizinha-me uma linda noite de prata … Ela espreita, numa ânsia de se mostrar bela e inalcançável como sempre !
Na penerosa viagem, vislumbro a negra amplitude de um ser que desconhecia…
Um rasto rubro é pintado no negro do alcatrão… E as valetas não são suficientes para o vencer…Escorrendo no sentido contrário ao que viajo, o sangue que transborda, pinta tudo o que deixo atrás de mim!
Penetrada numa imensa floresta de animais ferozes que buscam a minha última gota, sinto-me impotente e amarrada para alcançar a vida!
Corda de espinhos que me estrangulas o encéfalo e não me deixas ir mais além…
Não me deixas ser o que era, sonhar o que sonhava e viver o que sou!
Corpo tórpido, inútil e denegrido pelo tempo, resvala de podridão e acarinha com doçura a perenidade do ser em que me tornei.
Doce veneno que se introduz na minha mente a cada dia que passa, numa ânsia brusca e apetecível, na busca de mais uma mortalha…
Viagem infernal, na qual não se vê fim à vista, e na qual a imagem que se retém de fim de dia, é isso mesmo, o fim de mais um dia e o nascer de mais uma noite!

CM
Setembro de 2008

terça-feira, 5 de agosto de 2008

"Jardim"

No obscuro da noite, escondido na retaguarda de um espelho sem reflexo, invades tudo o que sou e tudo o que faço…
Penetras a barreira e não me apercebo o quanto a derrubas …
Encontras-me frágil e insistes mais um pouco… Mais uma pétala que cai, mais um passo junto de mim.
Numa guerra sangrenta que travas, buscas estancar os cortes afiados traçados no meu corpo, dilacerado pelas espadas do guerreiro das trevas, que se encontra embutido num espaço negro e impenetrável.
Picas e voltas a picar, devastas e rasgas subtilmente a selvajaria que me envolve…
Jardim negro que me rodeia, que transparece um vermelho fogoso…
Rosas vermelhas que trazem o negro da morte, que estropiam e entranham no corpo picos afiados deixando escorrer o sangue espesso, vagaroso e delicadamente subtil sob a minha velatura, delineando as curvas e marcando-as na selvajaria daquele local.
As lágrimas de água salgada esbofeteiam-me o rosto e no percorrer do seu caminho copulam com o expelir daquele tom vermelho que se dá com o encontro dos picos, e tornam-se num só… Escorrer de sangue em rolamentos vivos, mecanicamente trabalhados e subtilmente oleados com o doce líquido que broto ininterruptamente…
Ainda não cansado de me procurar na penumbra do jardim, continuas a devastar as pétalas rubis de aura negra que me envolvem…
Inesperadamente ouço-te a chamar e consigo finalmente vislumbrar uma luz radiante no meio de uma escuridão tão profunda.
Munido de uma armadura incorruptível, lá estás tu mais uma vez para me arrancar daquelas cordas de espinhos que envolvem tudo que sou e que me decepam o corpo a um leve gesto meu…
Num doce gesto lanças-me a mão e consegues agarrar-me, pegas em mim e levas-me contigo nessa luz que te envolve e que me ilumina, conseguindo cicatrizar as mais profundas feridas dos rasgos provocados por aquele jardim assombroso.
Consigo assim entrar numa nova viagem… O que será que me espera?

CM
Agosto 2008

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"Viagem"

No pico de uma silhueta que se desenhava no horizonte, lá estavas tu… Grande, magnifica, resplandecente… Bela como sempre!
O brilho que resplandecias ofuscou-me e absorveu-me a mente e transportou-me para o limiar do inatingível…
Doce caminhada, desenhada no vegetal do pensamento, que vagueia nas hipóteses delineadas pelo transeunte.
Amaciada e acarinhada no andar, a viagem deixou-me acorrentada nesse teu olhar, nessa tua magnificência, nessa tua forma de desabrochar a essência de um coração estilhaçado pelos rolamentos de uma ainda pequena vida.
Raios de luz que se fazem circular nas veias e me dão vida, me fazem respirar…
Numa ténue cortina próxima senti-me perto de te tocar, de te sentir, de te descobrir, de te ter… Levemente estendi fragilmente um dos meus franzinos braços, esticando numa busca desassossegada, a mão e por conseguinte os dedos rombos e corrompidos que o acompanharam, acreditando lá chegar…
Que tonta…!
O braço estendido parecia que diminuía em si próprio cada vez que era mais esticado…
O teu fogo assentou na velatura do meu corpo e delineou-o na profundidade daquele imaginário… Que bela estava!
Cansada exausta e perdida na luz incidente deixei-te ir…
Deixei-te fazer parte novamente do universo …
Mas não desisti de te ter…Adiei apenas a loucura de absorver a reminiscência que erradias.
De volta à realidade das sombras, encontro-me no regresso, no fim da viagem!


CM
Julho 2008

terça-feira, 22 de julho de 2008

Luz da vida e dos sonhos

Bicho de patas múltiplas que mutilas o corpo frágil e desarmado com as garras afiadas desse cadáver sanguinário, na espera de mais uma vítima…
No silêncio da noite, no invólucro da escuridão e do nada, no entremear de um espaço vazio e oco, és tu, ser desprezível que fazes com que ainda se sinta viva…
Mutilada e sem rumo sente essa dor que pregas e sabe que respira…
Cansada e impaciente, reflecte a sua insatisfação numa forma repelente e sabe que vive…
Nesse espaço oco e vazio uma estrela brilha de uma forma fabulosa, não natural e fá-la despertar…
O brilho que imana constantemente aquece-lhe o profundo da vida e dos sonhos e ela sabe que quer viver…
Na busca dessa vida, repele as garras e mata a dor como sabe e pode e dessa forma tenta viver…
Sente nesta fase um respirar mais presente e mais forte na negrura do espaço que a envolve!
A luz aumenta e o tom e clareia-lhe a mente, na visualização com o que se depara, quer viver…
O corpo sanguinário parece ter acalmado, por hoje, … Mais uma luta vencida, mais uma luta travada, numa batalha de muitas lides!
Esbaforida e cansada das mutilações, deixa-se cair, não vencida, mas vencedora, feliz por conseguir finalmente resfolegar e procurar a luz da vida e dos sonhos…
Amanhã haverá nova luta!

CM
Julho de 2008

domingo, 13 de julho de 2008

Palpitações

Palpitações, batidas, toques e acelerações…
A vida é feita de uma mistura de sons, efeitos, formas que nos fazem ser nós. Que nos fazem viver, acreditar e sonhar!
O rolar desta passagem no horizonte invoca tormentos apetecidos e proibidos. Atrasa-nos a racionalidade e torna-nos em animais dissimulados pela magnitude de um sonho escondido.
A naturalidade das coisas fazem-me acreditar numa rebelião de novos conceitos, novos objectos, novos seres, … enfim coisas que ainda não são tão naturais assim!
O desnudar da imagem reflectida lá longe, traz-me uma alegria e motivação para aquilo em que acredito…
O som imanado, solto e angustiante de um sofrimento silencioso também nos ajuda a evoluir…Não é verdade, afinal?
Acreditem que sim!... Podemos sofrer em silêncio, um sofrimento que nos faz bem, que nos puxa e nos arrebata o corpo…
E devem perguntar: “ Como tal é possível? Como se pode dizer que o sofrimento nos faz pessoas melhores, ou nos motiva para idealizar os sonhos?”
É verdade!
Da mesma forma que nos sentimos bem com o nascimento, apesar de nos doer o corpo todo…
É a vida que nos transpõe uma essência magnata num ténue espelho de água, que se dilui na realidade da verdade existente.
Palpitações, batidas, toques e acelerações…


CM
Julho 2008

segunda-feira, 16 de junho de 2008

"Os cavalos também se abatem"

Imaculadamente triste…
Profundamente dilacerada…
Aqui me encontro eu, vislumbrada perante um precipício sem fim, que me suga a alma com uma velocidade subtil.
Uma palavra de fel é solta no ar e perdida no tempo… Observo a sua caminhada e a subtileza do seu voo … Vem devagarinho, bem devagarinho, pousar na minha epiderme… Uma vez pousada e deitada num espantoso à-vontade, entranha-se no corpo aos poucos e poucos, criando um fervilhar na epiderme que vai derretendo-o em pedaços à sua passagem.
A carne é corroída até aos ossos, o corpo pinga sangue …
Trespassada e intoleravelmente fraca e sem mais forças, deixa-se cair num chão absorvido pelo sangue que escorre … e se esgueira por entre frinchas minusculamente pequenas, imperceptíveis a um simples e vulgar humano como tu.
Imaculadamente triste…
Devassadamente perdida…
Lobo preto, que feres e arranhas um doce corpo, rendido a ti, como podes ser tão vil, tão cruel?
Ingenuamente burro, assim és… Não consegues alcançar a beleza que tens nas garras…
Sedento, faminto e ressacado de uma morte sonante, procuras cortar-me as veias e tudo o que ainda me resta para dar…
Encontras em mim uma fonte inesgotável de alimento, mas… Os cavalos também se abatem!
Imaculadamente triste…
Ardentemente cansada!


CM
Junho de 2008

terça-feira, 10 de junho de 2008

"Cor de Laranja"

Nos tormentos da vida, há sempre esperanças dadas…
No negrume da reles existência humana, há sempre verdades sentidas…
Na escuridão do viver, há sempre uma luz que nos guia…
No preto das cores, existe sempre um tom mais forte…
Cor de laranja…
Cor que ilumina e pinta a minha mente, quando esta se esvazia na densidade negra, de uma floresta esgalhada de pernos enferrujados pela chuva ácida, que cai de pequenas órbitas cortadas e ensanguentadas pelo deslizar do gume da navalha…
Nas veias de sangue envenenadas, há sempre um doce licor…
Na mortalha da vida, há sempre um elo de ligação…
Na plenitude da morte, há sempre uma borboleta que voa…
Na clausura da subsistência, há sempre paredes de vidro…
No gelo que estagna o ser, há sempre um fogo que incendeia…
Na passagem para a morte, temos sempre que passar pela vida!

CM
Junho de 2008

segunda-feira, 9 de junho de 2008

"Neblina"

Numa imensidão de feras que me barram o caminho, encontro-te irradiado pelas luzes da mais bela existência do ser humano… Vida!
Tento alcançar-te, por passos de terra firme…
Os meus pés desdobram movimentos, um atrás do outro, perfazendo um caminhar na tua busca.
A terra é pisada numa leveza profunda que provoca um som estridente no contacto com estes elementos que teimam em continuar no alcance do que tu és…
Eles marcam o caminho, deixando para trás o trilho para que outros possam chegar até ti, mas são os únicos que se embrenham no desconhecido de uma direcção que pode devorar-me o corpo … trespassando e rasgando o ser do batimento!
Sentindo o aroma quente, continuo a colocar um e outro pé… numa certeza desconhecida vagueio desorientada na tua direcção!
Numa ténue neblina que ofusca tudo em meu redor, os meus pés continuam a flagelar a incerteza de uma realidade tão visível … No fundo do pano, um vulto surgido no nevoeiro faz-me despertar numa certeza do trilho.
Gelada e metalicamente petrificada por tal imagem, o movimento dos meus pés parece empedernecer!
Sinto o seu aproximar, a atroada do seu caminhar…
Os meus pés, ordenadores do meu corpo continuam cravados! Numa proximidade vil e fatal a imagem nublada revela-se nítida…
O gelo que envolvia o corpo petrificado, quebra-se em minúsculas partículas, pelo ardente calor ao te vislumbrar…
O teu corpo perto, o meu corpo próximo… O toque das minhas mãos nele, onde afinal as débeis garras conhecem as marcas na tua pele.
Num sonhar inatingível a minha mente continua a vislumbrar-te, porque o mundo pertence a quem se atreve a ver-te e a olhar-te!


CM
Junho de 2008


quinta-feira, 29 de maio de 2008

"Aqui moro eu"

Longe de tudo, perdida e esquecida, moro eu …
Trancada nas trémulas entranhas do coração, que palpita…
Num sôfrego bater, longe de tudo, mas perto de mim! Aqui estou eu…
Numa ansiedade que me dilacera a alma e me consome o corpo, vejo-me perdida e enclausurada nesse teu olhar penetrante dono de mim mesma, que me invade as memórias de outrora …
Num quente observar das colinas que se avizinham diante de nós, como se, se afastassem num tormentoso caminhar da lonjura, somos chamados a lá habitar.
Buraco, longínquo e impenetrável, apetecível de viver, clama gritos de loucura numa ânsia de nos ter!
Picos emergentes de um fundo sem término, sem corpos desgastados e mutilados pela história, de onde se deslindam os segredos mais esquecidos e escondidos pelo passar dos anos e séculos!
Numa voz que estremece a fina redundância dos cumes desnudados desta terra, estonteante som incentiva-nos a mergulhar neste plácido, fino e espesso negrume que nos esconde a mente dos olhares indiscretos transmitidos para fora do mundo que julgamos irreal e imparcial ao que estamos a viver.
Perto de mim, mas longe de tudo, a voz sonante esbate pequenos tosados nas frágeis aurículas do meu ser e consome tudo o que a estrela magnata dos sonhos me deixa elevar!
A lonjura de um tão perto estar, gela o fogo imanado dos poros de uma epiderme, transpirada, ardente e chamativa de um acto infernal de todo não impossível, não pela certeza do longe, mas sim pelo absoluto do perto!
Camada fina de transeuntes que esvaída em suor se esgota na sua essência de ser tão credível e tão translúcida para quem a vislumbra.
Ténue cortina abrange a sua separação…
A transparência imitada deixa vislumbrar uma adoração de divindade inexistente a todos os outros, mas aclamada como um doce veneno por ele… Percorrendo o vadio olhar pelo corpo aveludado e derretido, não pelo toque, mas pela essência, a capacidade do controle torna-se mais numa devassa certeza do profano…
Longe de tudo, mas perto de mim!
Aqui estou eu!
Aqui moro eu!

CM
Maio de 2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

“Andarilho da sombra”

No andarilho da sombra bate irrepetivelmente como quem chama por ela!
Bate tão constantemente, que o barulho ensurdecedor do seu coração bloqueia o silêncio cravado naquele espaço contíguo…
O bater constante no mais profundo do seu ser, deixa transparecer um cansaço inevitável, uma perda certa e um retorno ao passado!
Tempos de lágrimas vis, que derretiam o rosto e inchavam as orbitas cintilantes e cegas por uma luz que escurecia tudo em volta.
O andarilho da sombra voltou…
O pequeno corpo imaculado, sente-se estropiado por escorpiões negros que lhe trespassam o ser… Doce veneno penetrado no mais ínfimo ser da sua alma…
Cansada, vencida, pela luta travada no tempo secular de uma vida perdida, olha o mundo em seu redor, e volta a morrer!
A sombra da morte é a luz do seu caminho!
Os passos que dá formam pequenos círculos, que ao caminhar picam no mesmo chão gasto e absorvedor da essência dela…
Em certos momentos como por alívio os círculos, parecem pequenas ogivas, que amainam a realidade. A dor que habita no corpo, feita por espetos de um duro e frio metal em chama, anestesia-a.
Mas, como em todas as amplitudes da vida, o obtuso do ângulo nem sempre é a sua maior rotação…
As contas matemáticas, de números reais que parecem imortais nem sempre batem certo…
O andarilho da sombra voltou!

CM
Maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

“Resumido Lugar”

Tórpidas batidas que ecoam naquele resumido lugar e lhe estropiam o corpo…
Palavras dissecadas pelo odor de insensatez que lhe estrangula a mente e lhe lacera a existência.
Tudo se abate, tudo se dilui…
Tudo está certo e nada é assim!
Os sons enérgicos e cortantes pairam naquele resumido lugar! Não se abaixam e não se deixam abater, mantêm-se erguidos, com uma força imensurável…
Cortam-se, apunhalam-se, esbofeteiam-se, … mas não dão de si!
O ar gélido que aquece os transeuntes derretidos pelo ácido que lhes escorre na alma paira naquele resumido lugar, como se de um nevoeiro se tratasse…
Estão cegos e consumidos pela acidez do veneno que lhes corre nas veias e lhes dilacera os corações.
Entre bruscas pancadas, surgem lágrimas que escorrem como rios agitados pela agressividade do vento, que se entranha no mais profundo dos seus seres…
São faces molhadas pelo orvalho da tempestade que se abatem naquele resumido lugar.
Já enclausurada numa agonia que estraçalha tudo o que conhece como certo, sente pequenas picadas no corpo, que no seu leve contacto, esguicham o sangue arrecadado nas veias, que se vangloriza na sua libertação.
Submissa, ouvindo pequenos batimentos de morte no peito, é trespassada nas entranhas pela devassidão da noite, cai por terra…
Adormece e acorda novamente, mais uma vez…

CM
Maio de 2008

sábado, 3 de maio de 2008

"Trémulo corpo"

Trémulo corpo, esvaído
Perdido na sombra
Abafado pelo odor da ressaca,
Pintada na epiderme,
Transpirado por gotas
De um venenoso orvalho
Fresco da manhã
Que refresca o dia
Picado por lâminas afiadas
Que cortam suavemente
Um fio fino do teu corpo …
Trémulo corpo, esmagado
Contra o muro metálico
Suavizado pelo frio
Que aquece os pensamentos
De quem enxerga
A devassidão do dia
Que nasceu para todos
E para ninguém.
Que está preso
Por correntes de elos abertos
Que marcam o corpo…
Trémulo corpo, molhado
Pelo sangue que lhe deu vida
E a fez viver
Num mundo que a amou
E que a odiou
Que a desejou
E lhe deu rosas
De pétalas negras
Que enfeitam o seu caminho
E a guiam na direcção do Inferno!
Onde o corpo gelidamente aquecido,
Emana imponente…
Trémulo corpo, silenciado
Pela notícia
De um fim de vida
Que se esfaima no horizonte
No ouvir silencioso
Dos corvos e abutres
Que dissecados pela fome
Despedaçam e deliceram
O CORPO…
Corpo trémulo…
Corpo…
Corp…
Cor…
Co…
C…


CM
Maio de 2008

sexta-feira, 2 de maio de 2008

“Bolas de Sabão”

Matéria que se derrete no frio da montanha, entorpecida pelo calor do sol que se abate sobre ela. É nesta visão de deslumbramento que se perde o transeunte na busca de uma existência…
Picos e faíscas de cor iluminam a sua mente e resvalam na beleza picotante da gélida infusão de calor que se abate sobre ele!
Sentindo uma nítida e fogorosa atracção profana, pela pintura desenhada na humidade do calor do dia, as bolas de sabão flutuam no ar, deixando atrás de si o aroma, do desejo de lá chegar…
Bolas de sabão…
Envolvido e entrelaçado numa corda de picos de rosas, pingando doces gotas de sangue, espera por ele do outro lado…
Cega,
Impedida de ver pela luz que lhe corta o olhar …adormece…
Adormecida no recanto das húmidas bolas de sabão, deixa transparecer o culminar que aquele corpo já teve…
… os corpos que se aproximam amarrados pelo poder da atracção, estão próximos.
A intensidade do momento é vigorante e submissa…
Pedem num simples vislumbrar deles mesmo que aquele momento se torne num tempo secular…
Na imagem da sua retina tudo pára, como se só eles vivessem, tudo está estático, parado no tempo. O movimento só existe, neles!
Momentaneamente e sem poder travar as pernas atadas, tacteando-lhe o corpo numa busca infernal… procura...
No toque de cada tecido de pele, no aveludado corpo, sente-lhe o calor da epiderme a emergir em gélidas gotas de sabão…
Percorrendo o caminho, onde as queridas mãos morenas lhe tinham traçado o nome, entrega-se na fogorosa abertura de um clímax tão pedido e desejado!
Teu corpo, meu corpo…
Tudo o que o transeunte sonha na penumbra da noite!
Ploc…
Não resistindo à transparência das bolhas, finas e frágeis…
Ploc…ploc…
Explodem …
Acordada com as picadas destas ponteiras fica feliz. Uma última bola de sabão esbate-lhe no rosto… e humedece a essência, como sinal do acordar de um sonho.

Continuando na caminhada da sua existência, revigora-se…
Um dia, nascerás…
Um dia, viverás…
Um dia, serás…
Serás meu, como eu sou tua…
Um dia, verás…
Verás, como és meu…
Um dia, descobrirás…
Descobrirás, que me amas,
Como eu te amo a ti.
Um dia, as bolas de sabão…
As bolas de sabão, serão bolas de sabão…

CM
Maio de 2008

segunda-feira, 21 de abril de 2008

"A Luz do teu Olhar"

Percorrendo a luz do teu olhar, perco-me na plenitude do teu ser!
Brilho penetrante que incide em mim e me trespassa com um desejo insaciável, me aquece e me vigora…
Orlas douradas, que giram no entrelaçar dos nossos corações e nos amarram nos sonhos, como alianças do dia que nos prendem na busca de uma lealdade difícil.
Olhas… e deixas-me olhar…
Cobras…e deixas-me cobrar…
Pedes… e deixas-me pedir…
Entras… e deixas-me entrar…
Sofres, mas não deixas sofrer…
Doce luz que deixas invadir, mas não permites que saia… Prende-la entre vitrais gelidamente aquecidos e devorados por obscuros mistérios!
Escondido à frente, mostrando o que não é, o teu corpo entrega-se e caminha na procura do que não conhece …
Mas, subitamente a tua mente retrai-se e analisa o percurso…
Pequenos murmúrios de paragem surgem na brisa ensurdecedora.
Brisa árida que esbate no rosto, e corta no coração fogaças de pequenos cristais irradiados pelo fogo da paixão…
Tornas a entrar, e o calor do corpo adormecido pela anestesia da mente, expande-se e abraça tudo em volta…
Perde-se na busca de um desejo irremediável e inatingível, devassado pelos picos de um mundo em volta, e por tudo aquilo que a sociedade desperta.
Contudo, a luz do teu olhar não perde força, revigora-se e volta a incidir.
Vejo-te, quero-te e desejo-te…
Tens-me, adoras-me e amas-me … Escondido à frente, mostrando o que não é…
Mas, por entre o arvoredo obscuro da mente, eu …
Vi-te…
Olhei-te…
Desejei-te…
E tive-te… por breves e venenosos instantes…
Raios incandescentes imanaram naquele lugar…
Numa timidez, que me avassalou e derrotou por completo, afastas-te e emergiste num outro mundo.
Perdi a luz do teu olhar e tu mostraste o que não és…


CM

Abril de 2008

sexta-feira, 11 de abril de 2008

"A doce brisa da Primavera"

Invadida pelo simples olhar, olhando no profundo dos teus olhos, consegui enxergar o brilho do teu ser…
Resplandeceu tudo em seu redor, penetrou com pudor todo o meu ser, invadiu todos os meus sentidos, venceu todas as minhas barreiras e transpôs tudo o que pôde transpor… surgiste irradiado pela transparência do olhar.
O doce olhar de teus olhos, marcado no tempo, ficou como suspenso na eternidade dos sonhos… A profundeza dos pensamentos ultrapassou o infinito do universo e espalhou segredos surdos e mudos, incapazes de se emergirem no desmedido oceano.
A brisa suave de uma manhã de Primavera, esbate no meu rosto o murmúrio das tuas doces promessas e o suspiro dos teus desejos.
São gotas de orvalho cristalinas, translúcidas, que brotam da emancipação da Primavera, que arrebatam com gemidos tudo o que o ser humano acolhe como corpo… Corpo esse, desnudado pelos teus olhos que incidem num profundo de infinito… É intenso e transparente o teu ser e a tua essência. Se o espelho reflectisse a tua realidade, o mundo surpreender-se-ia com o oculto da tua existência.
O espelho esconde afinal, o reflexo de tudo o que todos conhecem e não vêm, imortaliza em segredo o gotejar sabedor de quem desperta o inatingível…
Rendida, reflicto imagens nesse espelho, esperando sempre conseguir trespassá-lo de uma forma inacessível, pela busca do infinito.
Entro e saio … Desejo profundo e incontrolável…que me invade o corpo e a razão de forma incandescente e tórrida, que arrebata o espírito.
Brisa ardente que magnetizas tudo em meu redor…prende-me no teu olhar!
É possível? Talvez num longínquo tempo o saberei…



CM

Março 2008

quinta-feira, 10 de abril de 2008

“Direito de voltar a viver”


Enclausurada por gélidas paredes, entorpecidas pelo gotejar de escorregadias bolhas de condensação, fica ela acanhada no seu canto, sem conseguir vislumbrar a luz do dia e sem conseguir movimentar as articulações do seu corpo.
O odor transparecido pelo vazio da humidade seca daquele local é inalado nas suas narinas e sugados pelos poros sedentos e mutilados pela fome. Queimada pelo frio inveterado nos planos perpendiculares lisos, cortados pelo obscuro da sombra cruzada entre eles, solta gemidos de uma perfuração impávida, de uma nova mutilação.
Com o corpo pregado ao chão infecundo, tenta soltar um murmúrio no silêncio lancinante da noite… Desgastada e esvaída em sangue pelas picadas das lombrigas que lhe espetam as suas afiadas espadas nas vísceras, não se consegue fazer ouvir, no túnel tenebroso e sem fim à vista, com perfis metálicos que lhe travam a entrada.
Subitamente rebola uma aragem que gela tudo o que ainda respira naquele local esquecido, perdido e estropiado pelo tempo. A névoa que surge dos seus lábios enegrecidos pelo frio, transparece um suspiro de vida, que insistentemente persiste em lutar contra a pele rasgada pela brisa árida e o corpo picado pelos “vampiros da clausura” que se deliciam em beber aquele fluido dos deuses, como se de um manjar se tratasse…
Cansada, sem forças e disposta a dar de si, visualiza uma sombra que lhe ofusca a escuridão do infinito vazio… Deslustrada pela intempérie que se lhe abateu não consegue alcançar com o olhar o inicio da sombra, não consegue ver, um clarão ofusca-lhe a vista…
O brilho daquela luz é tão intenso…e insiste incansavelmente chamar por ela, para o fim da criação da vida. O sofrimento que era imposto no seu corpo inopinadamente extinguiu-se e os movimentos voltaram. Estranho fenómeno difícil de aceitar! A medo recua e reclama o direito de voltar a viver!
Vê-se novamente encharcada em sangue e embrulhada numa dor que lhe consome o corpo…


CM

Abril 2008


“Pingas no Exterior”


Resvalada pela profundidade do corte que se abate no infinito escuro, viajo imprecisa pela memória do tempo. Setas flamejantes que me penetram a mente e me fustigam o pensamento.
Pinga no exterior…
Galhos e pontos obstruem o seu infinito deslizar no negrume do asfalto…

…No difícil caminhar do corpo, as palavras tímidas trespassadas no interior fechado da paisagem saem mudas, ofuscadas pela presença do teu olhar que invade o meu mais obscuro ser.
Hoje vês, e devoras-me…
Hoje ouves, e mutilas-me…
Hoje sentes, e penetras-me…
Amanhã abstrais-te, e consomes-me…
Só…
…Amálgama nos fios de linho vermelho que me trespassam a pele, pingam gotas de doce veneno ímpio… Saltitam no chão e resvalam-se perdidas na corrente de lava espessa e infernal, para que não sejam apanhadas, descobertas e sentidas.
No desejo de chegar e sair continuas a decepar-me a memória, na demanda do querer, do sentir e do saber…

Pinga com mais intensidade, o caminho torna-se cada vez mais difícil…

… As orbitas do dia continuam a esmagar o negro do desconhecido, calejadas pela dureza das facadas onde jorram esguichos de matéria quente, que incendeia as antefaces que insistem em não cair.
Presa na idolatração da pintura, sou absorvida pelo teu olhar de ansiedade fugaz que me faz perder na natureza morta, enfeitada por espinhos de rosas vermelhas, segregadas, que brotam um desejo inalcançável de te possuir.

Chamada à realidade… as pingas tornam-se agora espessas gotas que se abatem diante de mim, lembrando intempéries, na descoberta de uma alvorada próxima!

…O efeito de transparência emitido pela escuridão da noite traz os pensamentos e desejos mais obscuros entranhados na pele e que emanam nos poros como se de uma maré a emergir se tratasse.

A espuma esbatida no teu corpo transmite o desejo entranhado nas tuas vísceras e na tua mente.
A noite é o meu dia, sempre escondida pelo nascer de uma nova alvorada.
O dia é o meu chão, que se resvala num mar vermelho sem fim à vista onde a espuma esmaecida que cola em nós nos chama e nos afasta. Finos incrementos pintados no corpo e no espírito, como pequenas gotículas de veneno que se espalham e nos devassam as entranhas.
Dilacerado pelo trépido e cortante olhar que me solda a alma a este eterno e profano pensamento, o meu corpo inepto transforma-se e manifesta-se em inquietantes línguas de fogo. Adormecida pela traição da mente, estalidos estridentes num som metálico e gélido renascem quentes no eco da escuridão que se abate na cortina fechada de todo o corpo.
Salpicam e rebatem pequenos cristais derretidos pelo nascer da alvorada, que escorrem no gume da navalha, que delicada e docemente se afia no teu pescoço, onde traça singelamente riscos vermelhos escorridos e molhados pelo orvalho de um liquido viscoso, pingando na tela a pintura do teu coração.

Os pingos terminaram…
A tempestade abateceu-se… Mas o roncar silenciou e as luzes apagaram-se!
A viagem terminou.

CM

Abril de 2008

terça-feira, 1 de abril de 2008

"Sem rumo…"


Sozinha…
Percorrendo caminhos tormentosos, vagos, sem ideias, sem afinidades…
Tudo se desliga, tudo se afasta, foges… E eu deixo-te ir, perdida numa floresta de novas percussões da qual não se avizinha o fim…
Não me apercebo…
Não me admiro…
Simplesmente… não quero saber…é-me indiferente!
Os rumos separam-se e sinto que cada vez estou mais além, num outro sentido, numa outra dimensão, da qual não fazes parte ou não queres fazer…
Porquê?
Estou a ser cruel, a minha mente não está sã, tudo se pode e consegue desmoronar em tão pouco tempo … Talvez não seja pouco tempo… Talvez esteja simplesmente a acordar para o brilho de viver.
Não estás e eu não sinto falta, o meu ser não se dilacera como antes de fogosas saudades.
Peço aos seres escondidos na vastidão do espaço, que te iluminem, para que eu te consiga vislumbrar, mas mesmo assim a minha mente sofre, num constante reboliço, transforma-se… É algo que me diverte, apetece mais, é uma sensação profana e infernal…
Desculpa…
Voltei a despertar, acordei…
De tudo o que estava adormecido, como se de um sedativo se tratasse…
É um vício incessante que bebo incansavelmente com desejo ofuscante, sem nunca conseguir satisfazer…
Sou trespassada por ideias, pensamentos, tudo o que numa mente pode haver de bom e mau, em conjunto… É como se o gotejar desta luz resplandecente me iluminasse por completo…
Descobri …
Tão perto e tão longe…
Afinal era só isso….


CM

Fevereiro 2008

sábado, 22 de março de 2008

“Túneis perfilados por pirilampos”

Num roncar perfurante do traçado negro, as órbitas redondas rompem e rasgam a profundidade do horizonte.
Rolam e passam…
A mente divaga, a lua está cheia, o seu brilho ofusca a realidade do dia. Mas, não há qualquer homem que se aperceba, que interiorize o que a natureza nos dá de mais sublime para a existência da vida humana… O brilho puro e suave que encadeia qualquer pirilampo de metal seco e vazio, oferece a dádiva divina da sua presença.
A aridez da paisagem perfilada invoca um caminho flamejante e perigoso…
As órbitas continuam em movimento…
Os olhos negros, cegos de luz, permanecem emergidos na estridente paisagem que se vislumbra no caminho que nos suga a respiração, nos corta a aceleração e nos faz palpitar o coração… O céu imana línguas de fogo esbatidas pela luminosidade daquele corpo…
Percorro túneis perfilados por pirilampos que se afastam quando acelero e aproximam-se quando detenho…
A lua está sem dúvida linda… O rotatório que rodeia todo o seu esplendor é contornado pela reminiscência do seu ser! A tua imagem surge no seu reflexo, como um espelho que reflecte o dia de amanhã… A doce brisa traz o teu aroma embrulhado em laços de luz, desfeitos numa ausência incerta. Incerta como uma nuvem negra que transpõe a fluorescência da luz do dia, para iluminação das trevas.
Perdida na iluminação robótica e mecanizada do entardecer, perco o teu estado esférico, que mesmo assim continua a inundar o horizonte, ofuscando tudo o resto…
Rolam e passam…
Agora num melhoramento do desgaste em direcção ao que se vislumbra um negro interior, os perfis metálicos desvanecem por momentos, para novamente surgirem com toda a sua graça e robustez…
As órbitas param, o túnel chega ao fim…
A porta abre, a lua fecha-se lá fora, a porta bate…

CM
Março 2008




segunda-feira, 17 de março de 2008

“Na Realidade dos Sonhos”

No doce caminhar do infinito saber, descubro que o que nos oferecem não é o limite, é o inicio do princípio! Vagueando por ruelas desconhecidas, vou percorrendo caminhos escondidos no meu subconsciente… Percorro…
As paredes são frias, nuas, sem vida a revelar… Toco e os meus dedos enregelam-se com a aridez da transparência do seu nada.
Os meus pés continuam a deslocar-se…
Caminhos abertos pela vontade devastadora do nada! Paredes que reflectem uma frieza robótica, fleumáticas, onde o pensamento do transeunte procura o calor do sangue, nas vielas desta rua, que parece manter-se impenetrável no calor da chama.
Os passos continuam num murmúrio, que chocam com os ressaltos de gotas vermelhas, do trilhar do chão manchado pela chuva ácida, que derrete a sola das botas, e que se entranha nos pés, dilacerando-os e empedernecendo todo o meu corpo.
Invadido pelo ácido, o meu corpo desgasta-se entranhado por injecções de um líquido cortante que derrete tudo à sua passagem. Subitamente, uma seringa espeta-se no meu íntimo, fico petrificada pela penetração do elemento afiado, estéril e perfurante que mergulha no meu corpo a claridade de um relâmpago e produz como choques electromagnéticos, vida em mim…
Os movimentos comandados pelo meu corpo, ordenados pelo meu cérebro param… Os meus olhos são cortados por lâminas que fazem brotar raios de luz, perante o que surge naquela picada afiada de pecado.
Vislumbro no teu olhar o forte desejo de me possuir, de me teres junto de ti, no calor da tua sôfrega paixão… Sinto a delicadeza do teu ser a puxar-me para um abismo infernal… Desnorteada, ferida e com o corpo derretido pelo ácido, deixo-me ir…
São só mais dois passos, o movimento dos meus pés, revelam-se novamente nos charcos vermelhos da chuva ácida…
Em meu redor as paredes frias e cinzentas, tomam agora um tom “rouge”, transpiram, escorrem, vislumbradas pelo odor, calor e ardente desejo que se magnetiza entra elas.
O meu corpo colou amparado no teu peito…
Ouço o teu coração a palpitar num ritmo que suga o meu próprio respirar. O teu apertar trespassa o meu ser, rasga a minha pele com incendiado desejo, penetrando na revolta incessante de me fruir. Parecem punhais afiados a cravarem todo o meu corpo, que flagra como línguas de fogo.
Ardente, sedento de paixão, o respirar está ofegante e no fundo daquele beco negro e sombrio resplandece tudo em seu redor… Ficamos assim por momentos, parados no tempo, como se de uma fotografia se tratasse, imóveis sem conseguir repelir a sanguessuga que se abate naquele lugar.
Petrificados pela ausência de tempo entre nós, não damos conta que a terra gira em volta de si mesma…
A gélida e ardente brisa que corre entre nós junta-nos e afasta-nos ao mesmo tempo como se de um ioiô se tratasse, é um cortar afiado e uma sucção das veias e do coração que se altercam para sobreviver a um insistente chamamento. O olhar de fogo que se abate em mim, brilha como relâmpagos que me ferem os olhos e partem-se como cristais, incapazes de resistir a tal poder de desejo.
A temperatura escala, a maior profanidade é inevitável…

Subitamente, a luz clareia… o despertador toca…

A mente traz-nos durante a noite os sonhos da realidade … Sonhos de um anseio real!
Os meus pés tornam-se a mover, agora para a realidade da vida de todos os dias.

CM

Março 2008

domingo, 16 de março de 2008

"O chamamento"

No suspiro da noite profunda chamas incessantemente como se de uma melodia se tratasse… A intensidade que hoje as estrelas emanam, fazem recortar na profundeza do horizonte o reflexo dos teus olhos, que perdidos na imensidão do mundo me guiam, me chamam e me devoram.
São agulhas afiadas que trespassam o meu corpo inundado, ardente de fervor e paixão.
Na busca do impossível exploras, estudas e analisas tudo de mais intrigante e atraente que há mim…. Percorres-me como ninguém percorre, descobres-me como ninguém descobre…
Está tão longe e tão perto o despertar da tua alvorada, o desejo e fulgor do teu ser …
Ninguém vê…
Só eu, que me perco na minha imaginação…
Estás tão longe…
E voltas a chamar… e tornas a despir e tornas a percorrer e tudo explode como se não te apercebesses … brilhas e fazes brilhar as estrelas do teu luar!
O brilho da noite deixa-te louco, possuído de fervor e ardente desejo, mas a luz do dia traz-te a lucidez da mente…
Brotam lágrimas…
- Oh lua que ofuscas a lucidez desta mente, brilha de dia para todo o sempre!
E a lua continua a brilhar na noite e a ser ofuscada pela luz do dia…
… Brotam lágrimas…


CM

Março 2008

"Pérolas Prateadas"

Hoje surgiu uma nesga de luz no fundo do túnel obscuro… Um tímido raio emerge lá do fundo, fraco, como se o medo o assombrasse.
Uma nítida flecha de brilho resplandece finalmente, amálgama pela escuridão ainda muito patente …
Pérolas prateadas que transmitem a fraca luminosidade cinzenta, esbatida, suavizada, mas mais clara!
Hoje fui invadida pelo interior do teu ser, pela sinceridade dos teus morfemas, pelo teu reparo e admiração. Conseguiste arrancar do meu mais profundo íntimo negro e ausente do mundo, um retraído e rasgado sorriso… Breve gesticulação movimentada no rosto surgiu…afinal sei sorrir… Enterrada no profundo obscuro da noite, sob o céu negro, não conseguia, até então, vislumbrar o brilho das estrelas, ofuscado pelo lúgubre da escuridão.
Pareciam agora pérolas prateadas iluminadas pela lua, calma, serena e impávida, que se reflectia no meu buraco fundo e sombrio, onde as trevas me cravavam cruzes de morte…
Soltaste as minhas amarras da escuridão, que marcaram fios de espinhos nos meus pulsos e rasgaram a pele do meu corpo, adormecida pelo gélido tremor do sofrimento. Libertaste o meu íntimo, perdido no medo e sem vontade de viver…
Entraste…
Perfuraste…
Penetraste…
Sem medo, nem pudor… Invadiste todos os meus segredos, embrulhados pela aspereza da vida e pela dor da alma…
Pérolas prateadas que surgiram…
Ténues como gotas de orvalho…
Magnífico, não te petrificas perante tamanha frieza e indiferença … rasgas e tornas a rasgar até conseguires vislumbrar um fraco raio de fulguração no meu rosto.
Para o deslumbramento dos teus olhos e do teu ser, consegues…Explodes e vangloriaste, cheio de robustez por tal cabo das tormentas ultrapassado. Rejubilas, e não escondes, o quanto te faz feliz, o feito que acabaste de consumar.
A minha alma sente fortes picadas, como se um doce veneno evadisse o meu corpo e lhe oferecesse um novo aroma…
Pérolas prateadas…
Que ofereces um novo valor à minha existência e reflectes com lágrimas de orvalho, a luz do dia!

Afinal também há dia…
Procuraste no mais profundo do meu ser e encontraste a luz do teu deslumbramento!
O dia nasce de novo…



CM

Maio 2006

"No fio fino do abismo"

Estou no vislumbrar do abismo, da profundidade oca, sem fim…
Questiono-me a mim mesma qual a razão da minha existência, do meu ser, se sou apunhalada uma e outra vez e mais uma, numa correria de facadas sem fim!
Qual a minha missão afinal?
O abismo parece tão real, tão profundo e tão próximo…dá vontade de ir ter com ele…
As pessoas são mesmo capazes de nos dilacerar a alma e tudo o que para nós podia ser a felicidade.
Na penumbra da noite este veneno que me percorre as veias e me faz delirar…delirar de dor e sofrimento. As lágrimas parecem agulhas afiadas no meu rosto...cortam e não mancham, vão e vêm…e…não param … Nesta noite escura confesso os meus mais sádicos pensamentos que me devassam a alma, que me apunhalam o coração.
Acreditei, confiei, perdi…
Perdi tudo o que havia a perder, não sei para quê a existência do meu ser … este corpo, esta forma, esta maneira de ser e ver as coisas, não é necessária à existência do ser humano… Para quê existir?
Para simplesmente ocupar mais um espaço vazio do universo, sem uma estrela a iluminar, perdida na escuridão!
O negrume da noite é a luz que me guia, é a estrela que me acompanha…
Esbatido pela indiferença, esses olhos negros que me trespassam a alma, me mutilam o corpo!
Embrulhada na sombra, a profundeza do Inferno é a única coisa que vislumbro…
O morfema que transmites é espadas que atravessam tudo … petrificadas na imensidão do esquecimento. Congelo com o bafo frio que dele sai, fico estagnada, sem reacção do corpo que ficou gélido pela aspereza nunca antes exibida.
As gotas de fel … continuam… e não param…
O coração, trespassado pelo punhal da arbitrariedade, sangra… são lágrimas de orvalho vermelho. O sussurrar do ninguém esbate nas paredes do quarto vazio e sem vida. A desilusão da mente é mais forte que a do corpo, engana-nos melhor, mas fere ainda mais. Isolada com a escuridão do céu negro sobre mim e mais nada…
Olhos negros, traidores da minha dor, que me invades o tempo, manténs-te impune, com a alegria suavizada na face!
Desmaiada pela cor da felicidade ilumino as trevas dos meus pensamentos que cada vez são mais enfermos!
Morte…
Óbito…
Fim…
Extinção…
Quão belas hão-de de ser… tentador procedimento do término sofrimento, fácil de processar e rápida solução da transparência insegura do ser humano.
Com orgulho profano, idolatro a tua existência!


CM


Fevereiro 2006

sexta-feira, 14 de março de 2008

"Orquídeas Negras de Outono"

A notícia chegou como um furacão, num dia de tempestade, trazida por batidas de gritos e murmúrios perturbadores. Cada palavra espetava no meu corpo uma espada de dois gumes… a incerteza da realidade e a própria realidade, esbatida ali naquele momento, como um precipício sem fim…
A minha realidade deixou de o ser, empederni, não consegui reagir. O meu corpo ficou cravado ao chão, como se as raízes da profundeza da escuridão me tivessem apresado ali, sem me darem hipótese de ter vontade própria.
Deixei de ser eu….
A única coisa que transmitia movimento, eram as gotas de sangue, que brotavam dos meus olhos, feridos de dor e afogo. O chão negro reflectia no seu ser um fio vermelho, que se guiava num profundo sem fim. Cortinas negras surgiram diante das brechas de luz que ali ainda espreitavam tímidas, como o sol de Outono.
Quem diria que existiam orquídeas negras?
O corpo continuava cravado… O som das palavras que entoavam no corpo, propagavam-se como um veneno que se entranha nas veias, mortífero, sem antídoto eficaz…
De repente surgiu o silêncio, com o fechar da porta, esbaforida pelo vento da tempestade que se tinha abatido naquele lugar, por breves momentos intermináveis, perdidos no tempo. Percorria agora uma brisa gélida que acariciava o corpo com espinhos de rosas vermelhas pintadas pelas lágrimas.
O corpo descolou, sem força e frágil, arrastou-se, encharcado pela mágoa e tristeza, numa sofreguidão, como se tivesse correntes nos pés e o peso deste fosse tal, que era quase impossível vislumbrar e alcançar o conforto que lhe era merecido.
Orquídeas negras…quem diria…
Sonho real, da profana intempérie, que te abateste neste local! Descete mais fundo que o Inferno, não para ver o fogo que imana nesse local, mas para veres mais além o negrume que lá paira … de onde nunca mais sairás!
Pecadora Infernal!
E o corpo quase que se esparge no chão, sem forças e sem reacção. A cabeça quer avançar, mas com o coração trespassado por punhais, tem dificuldade em reagir… os batimentos são fracos, mal se ouvem naquele silêncio ensurdecedor. As lágrimas, essas não paravam, e o que era um fio, rapidamente se transformou no leito de um vale encoberto pelo sombrio arrepiar das suas árvores negras, que rebentam do seu fundo, sem fim e luz à vista.
Por fim, algo, que parecia inalcançável à partida, surgia agora, onde o corpo pudesse cair, sem fundo, só cair…
Devastado pelo cansaço de tal viagem tempestuosa, o corpo esfaimado de dor, pela morte, pelo fim…fica sem reacção…
Trash…pum…Toc…
Acordada pelo atroador barulho … acreditando ter sido um pesadelo, vislumbra em volta… o local continuava invadido por obscuras cores, tal como no seu sonho. Cansada, sem energia no seu corpo, apercebe-se …. A morte afinal tinha sido real … E volta a morrer, uma e mais uma e outra vez!
Orquídeas negras, afinal existem!



CM

Outubro 2004

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