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Amarante, Portugal

sábado, 22 de março de 2008

“Túneis perfilados por pirilampos”

Num roncar perfurante do traçado negro, as órbitas redondas rompem e rasgam a profundidade do horizonte.
Rolam e passam…
A mente divaga, a lua está cheia, o seu brilho ofusca a realidade do dia. Mas, não há qualquer homem que se aperceba, que interiorize o que a natureza nos dá de mais sublime para a existência da vida humana… O brilho puro e suave que encadeia qualquer pirilampo de metal seco e vazio, oferece a dádiva divina da sua presença.
A aridez da paisagem perfilada invoca um caminho flamejante e perigoso…
As órbitas continuam em movimento…
Os olhos negros, cegos de luz, permanecem emergidos na estridente paisagem que se vislumbra no caminho que nos suga a respiração, nos corta a aceleração e nos faz palpitar o coração… O céu imana línguas de fogo esbatidas pela luminosidade daquele corpo…
Percorro túneis perfilados por pirilampos que se afastam quando acelero e aproximam-se quando detenho…
A lua está sem dúvida linda… O rotatório que rodeia todo o seu esplendor é contornado pela reminiscência do seu ser! A tua imagem surge no seu reflexo, como um espelho que reflecte o dia de amanhã… A doce brisa traz o teu aroma embrulhado em laços de luz, desfeitos numa ausência incerta. Incerta como uma nuvem negra que transpõe a fluorescência da luz do dia, para iluminação das trevas.
Perdida na iluminação robótica e mecanizada do entardecer, perco o teu estado esférico, que mesmo assim continua a inundar o horizonte, ofuscando tudo o resto…
Rolam e passam…
Agora num melhoramento do desgaste em direcção ao que se vislumbra um negro interior, os perfis metálicos desvanecem por momentos, para novamente surgirem com toda a sua graça e robustez…
As órbitas param, o túnel chega ao fim…
A porta abre, a lua fecha-se lá fora, a porta bate…

CM
Março 2008




segunda-feira, 17 de março de 2008

“Na Realidade dos Sonhos”

No doce caminhar do infinito saber, descubro que o que nos oferecem não é o limite, é o inicio do princípio! Vagueando por ruelas desconhecidas, vou percorrendo caminhos escondidos no meu subconsciente… Percorro…
As paredes são frias, nuas, sem vida a revelar… Toco e os meus dedos enregelam-se com a aridez da transparência do seu nada.
Os meus pés continuam a deslocar-se…
Caminhos abertos pela vontade devastadora do nada! Paredes que reflectem uma frieza robótica, fleumáticas, onde o pensamento do transeunte procura o calor do sangue, nas vielas desta rua, que parece manter-se impenetrável no calor da chama.
Os passos continuam num murmúrio, que chocam com os ressaltos de gotas vermelhas, do trilhar do chão manchado pela chuva ácida, que derrete a sola das botas, e que se entranha nos pés, dilacerando-os e empedernecendo todo o meu corpo.
Invadido pelo ácido, o meu corpo desgasta-se entranhado por injecções de um líquido cortante que derrete tudo à sua passagem. Subitamente, uma seringa espeta-se no meu íntimo, fico petrificada pela penetração do elemento afiado, estéril e perfurante que mergulha no meu corpo a claridade de um relâmpago e produz como choques electromagnéticos, vida em mim…
Os movimentos comandados pelo meu corpo, ordenados pelo meu cérebro param… Os meus olhos são cortados por lâminas que fazem brotar raios de luz, perante o que surge naquela picada afiada de pecado.
Vislumbro no teu olhar o forte desejo de me possuir, de me teres junto de ti, no calor da tua sôfrega paixão… Sinto a delicadeza do teu ser a puxar-me para um abismo infernal… Desnorteada, ferida e com o corpo derretido pelo ácido, deixo-me ir…
São só mais dois passos, o movimento dos meus pés, revelam-se novamente nos charcos vermelhos da chuva ácida…
Em meu redor as paredes frias e cinzentas, tomam agora um tom “rouge”, transpiram, escorrem, vislumbradas pelo odor, calor e ardente desejo que se magnetiza entra elas.
O meu corpo colou amparado no teu peito…
Ouço o teu coração a palpitar num ritmo que suga o meu próprio respirar. O teu apertar trespassa o meu ser, rasga a minha pele com incendiado desejo, penetrando na revolta incessante de me fruir. Parecem punhais afiados a cravarem todo o meu corpo, que flagra como línguas de fogo.
Ardente, sedento de paixão, o respirar está ofegante e no fundo daquele beco negro e sombrio resplandece tudo em seu redor… Ficamos assim por momentos, parados no tempo, como se de uma fotografia se tratasse, imóveis sem conseguir repelir a sanguessuga que se abate naquele lugar.
Petrificados pela ausência de tempo entre nós, não damos conta que a terra gira em volta de si mesma…
A gélida e ardente brisa que corre entre nós junta-nos e afasta-nos ao mesmo tempo como se de um ioiô se tratasse, é um cortar afiado e uma sucção das veias e do coração que se altercam para sobreviver a um insistente chamamento. O olhar de fogo que se abate em mim, brilha como relâmpagos que me ferem os olhos e partem-se como cristais, incapazes de resistir a tal poder de desejo.
A temperatura escala, a maior profanidade é inevitável…

Subitamente, a luz clareia… o despertador toca…

A mente traz-nos durante a noite os sonhos da realidade … Sonhos de um anseio real!
Os meus pés tornam-se a mover, agora para a realidade da vida de todos os dias.

CM

Março 2008

domingo, 16 de março de 2008

"O chamamento"

No suspiro da noite profunda chamas incessantemente como se de uma melodia se tratasse… A intensidade que hoje as estrelas emanam, fazem recortar na profundeza do horizonte o reflexo dos teus olhos, que perdidos na imensidão do mundo me guiam, me chamam e me devoram.
São agulhas afiadas que trespassam o meu corpo inundado, ardente de fervor e paixão.
Na busca do impossível exploras, estudas e analisas tudo de mais intrigante e atraente que há mim…. Percorres-me como ninguém percorre, descobres-me como ninguém descobre…
Está tão longe e tão perto o despertar da tua alvorada, o desejo e fulgor do teu ser …
Ninguém vê…
Só eu, que me perco na minha imaginação…
Estás tão longe…
E voltas a chamar… e tornas a despir e tornas a percorrer e tudo explode como se não te apercebesses … brilhas e fazes brilhar as estrelas do teu luar!
O brilho da noite deixa-te louco, possuído de fervor e ardente desejo, mas a luz do dia traz-te a lucidez da mente…
Brotam lágrimas…
- Oh lua que ofuscas a lucidez desta mente, brilha de dia para todo o sempre!
E a lua continua a brilhar na noite e a ser ofuscada pela luz do dia…
… Brotam lágrimas…


CM

Março 2008

"Pérolas Prateadas"

Hoje surgiu uma nesga de luz no fundo do túnel obscuro… Um tímido raio emerge lá do fundo, fraco, como se o medo o assombrasse.
Uma nítida flecha de brilho resplandece finalmente, amálgama pela escuridão ainda muito patente …
Pérolas prateadas que transmitem a fraca luminosidade cinzenta, esbatida, suavizada, mas mais clara!
Hoje fui invadida pelo interior do teu ser, pela sinceridade dos teus morfemas, pelo teu reparo e admiração. Conseguiste arrancar do meu mais profundo íntimo negro e ausente do mundo, um retraído e rasgado sorriso… Breve gesticulação movimentada no rosto surgiu…afinal sei sorrir… Enterrada no profundo obscuro da noite, sob o céu negro, não conseguia, até então, vislumbrar o brilho das estrelas, ofuscado pelo lúgubre da escuridão.
Pareciam agora pérolas prateadas iluminadas pela lua, calma, serena e impávida, que se reflectia no meu buraco fundo e sombrio, onde as trevas me cravavam cruzes de morte…
Soltaste as minhas amarras da escuridão, que marcaram fios de espinhos nos meus pulsos e rasgaram a pele do meu corpo, adormecida pelo gélido tremor do sofrimento. Libertaste o meu íntimo, perdido no medo e sem vontade de viver…
Entraste…
Perfuraste…
Penetraste…
Sem medo, nem pudor… Invadiste todos os meus segredos, embrulhados pela aspereza da vida e pela dor da alma…
Pérolas prateadas que surgiram…
Ténues como gotas de orvalho…
Magnífico, não te petrificas perante tamanha frieza e indiferença … rasgas e tornas a rasgar até conseguires vislumbrar um fraco raio de fulguração no meu rosto.
Para o deslumbramento dos teus olhos e do teu ser, consegues…Explodes e vangloriaste, cheio de robustez por tal cabo das tormentas ultrapassado. Rejubilas, e não escondes, o quanto te faz feliz, o feito que acabaste de consumar.
A minha alma sente fortes picadas, como se um doce veneno evadisse o meu corpo e lhe oferecesse um novo aroma…
Pérolas prateadas…
Que ofereces um novo valor à minha existência e reflectes com lágrimas de orvalho, a luz do dia!

Afinal também há dia…
Procuraste no mais profundo do meu ser e encontraste a luz do teu deslumbramento!
O dia nasce de novo…



CM

Maio 2006

"No fio fino do abismo"

Estou no vislumbrar do abismo, da profundidade oca, sem fim…
Questiono-me a mim mesma qual a razão da minha existência, do meu ser, se sou apunhalada uma e outra vez e mais uma, numa correria de facadas sem fim!
Qual a minha missão afinal?
O abismo parece tão real, tão profundo e tão próximo…dá vontade de ir ter com ele…
As pessoas são mesmo capazes de nos dilacerar a alma e tudo o que para nós podia ser a felicidade.
Na penumbra da noite este veneno que me percorre as veias e me faz delirar…delirar de dor e sofrimento. As lágrimas parecem agulhas afiadas no meu rosto...cortam e não mancham, vão e vêm…e…não param … Nesta noite escura confesso os meus mais sádicos pensamentos que me devassam a alma, que me apunhalam o coração.
Acreditei, confiei, perdi…
Perdi tudo o que havia a perder, não sei para quê a existência do meu ser … este corpo, esta forma, esta maneira de ser e ver as coisas, não é necessária à existência do ser humano… Para quê existir?
Para simplesmente ocupar mais um espaço vazio do universo, sem uma estrela a iluminar, perdida na escuridão!
O negrume da noite é a luz que me guia, é a estrela que me acompanha…
Esbatido pela indiferença, esses olhos negros que me trespassam a alma, me mutilam o corpo!
Embrulhada na sombra, a profundeza do Inferno é a única coisa que vislumbro…
O morfema que transmites é espadas que atravessam tudo … petrificadas na imensidão do esquecimento. Congelo com o bafo frio que dele sai, fico estagnada, sem reacção do corpo que ficou gélido pela aspereza nunca antes exibida.
As gotas de fel … continuam… e não param…
O coração, trespassado pelo punhal da arbitrariedade, sangra… são lágrimas de orvalho vermelho. O sussurrar do ninguém esbate nas paredes do quarto vazio e sem vida. A desilusão da mente é mais forte que a do corpo, engana-nos melhor, mas fere ainda mais. Isolada com a escuridão do céu negro sobre mim e mais nada…
Olhos negros, traidores da minha dor, que me invades o tempo, manténs-te impune, com a alegria suavizada na face!
Desmaiada pela cor da felicidade ilumino as trevas dos meus pensamentos que cada vez são mais enfermos!
Morte…
Óbito…
Fim…
Extinção…
Quão belas hão-de de ser… tentador procedimento do término sofrimento, fácil de processar e rápida solução da transparência insegura do ser humano.
Com orgulho profano, idolatro a tua existência!


CM


Fevereiro 2006

sexta-feira, 14 de março de 2008

"Orquídeas Negras de Outono"

A notícia chegou como um furacão, num dia de tempestade, trazida por batidas de gritos e murmúrios perturbadores. Cada palavra espetava no meu corpo uma espada de dois gumes… a incerteza da realidade e a própria realidade, esbatida ali naquele momento, como um precipício sem fim…
A minha realidade deixou de o ser, empederni, não consegui reagir. O meu corpo ficou cravado ao chão, como se as raízes da profundeza da escuridão me tivessem apresado ali, sem me darem hipótese de ter vontade própria.
Deixei de ser eu….
A única coisa que transmitia movimento, eram as gotas de sangue, que brotavam dos meus olhos, feridos de dor e afogo. O chão negro reflectia no seu ser um fio vermelho, que se guiava num profundo sem fim. Cortinas negras surgiram diante das brechas de luz que ali ainda espreitavam tímidas, como o sol de Outono.
Quem diria que existiam orquídeas negras?
O corpo continuava cravado… O som das palavras que entoavam no corpo, propagavam-se como um veneno que se entranha nas veias, mortífero, sem antídoto eficaz…
De repente surgiu o silêncio, com o fechar da porta, esbaforida pelo vento da tempestade que se tinha abatido naquele lugar, por breves momentos intermináveis, perdidos no tempo. Percorria agora uma brisa gélida que acariciava o corpo com espinhos de rosas vermelhas pintadas pelas lágrimas.
O corpo descolou, sem força e frágil, arrastou-se, encharcado pela mágoa e tristeza, numa sofreguidão, como se tivesse correntes nos pés e o peso deste fosse tal, que era quase impossível vislumbrar e alcançar o conforto que lhe era merecido.
Orquídeas negras…quem diria…
Sonho real, da profana intempérie, que te abateste neste local! Descete mais fundo que o Inferno, não para ver o fogo que imana nesse local, mas para veres mais além o negrume que lá paira … de onde nunca mais sairás!
Pecadora Infernal!
E o corpo quase que se esparge no chão, sem forças e sem reacção. A cabeça quer avançar, mas com o coração trespassado por punhais, tem dificuldade em reagir… os batimentos são fracos, mal se ouvem naquele silêncio ensurdecedor. As lágrimas, essas não paravam, e o que era um fio, rapidamente se transformou no leito de um vale encoberto pelo sombrio arrepiar das suas árvores negras, que rebentam do seu fundo, sem fim e luz à vista.
Por fim, algo, que parecia inalcançável à partida, surgia agora, onde o corpo pudesse cair, sem fundo, só cair…
Devastado pelo cansaço de tal viagem tempestuosa, o corpo esfaimado de dor, pela morte, pelo fim…fica sem reacção…
Trash…pum…Toc…
Acordada pelo atroador barulho … acreditando ter sido um pesadelo, vislumbra em volta… o local continuava invadido por obscuras cores, tal como no seu sonho. Cansada, sem energia no seu corpo, apercebe-se …. A morte afinal tinha sido real … E volta a morrer, uma e mais uma e outra vez!
Orquídeas negras, afinal existem!



CM

Outubro 2004

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