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Amarante, Portugal

terça-feira, 5 de agosto de 2008

"Jardim"

No obscuro da noite, escondido na retaguarda de um espelho sem reflexo, invades tudo o que sou e tudo o que faço…
Penetras a barreira e não me apercebo o quanto a derrubas …
Encontras-me frágil e insistes mais um pouco… Mais uma pétala que cai, mais um passo junto de mim.
Numa guerra sangrenta que travas, buscas estancar os cortes afiados traçados no meu corpo, dilacerado pelas espadas do guerreiro das trevas, que se encontra embutido num espaço negro e impenetrável.
Picas e voltas a picar, devastas e rasgas subtilmente a selvajaria que me envolve…
Jardim negro que me rodeia, que transparece um vermelho fogoso…
Rosas vermelhas que trazem o negro da morte, que estropiam e entranham no corpo picos afiados deixando escorrer o sangue espesso, vagaroso e delicadamente subtil sob a minha velatura, delineando as curvas e marcando-as na selvajaria daquele local.
As lágrimas de água salgada esbofeteiam-me o rosto e no percorrer do seu caminho copulam com o expelir daquele tom vermelho que se dá com o encontro dos picos, e tornam-se num só… Escorrer de sangue em rolamentos vivos, mecanicamente trabalhados e subtilmente oleados com o doce líquido que broto ininterruptamente…
Ainda não cansado de me procurar na penumbra do jardim, continuas a devastar as pétalas rubis de aura negra que me envolvem…
Inesperadamente ouço-te a chamar e consigo finalmente vislumbrar uma luz radiante no meio de uma escuridão tão profunda.
Munido de uma armadura incorruptível, lá estás tu mais uma vez para me arrancar daquelas cordas de espinhos que envolvem tudo que sou e que me decepam o corpo a um leve gesto meu…
Num doce gesto lanças-me a mão e consegues agarrar-me, pegas em mim e levas-me contigo nessa luz que te envolve e que me ilumina, conseguindo cicatrizar as mais profundas feridas dos rasgos provocados por aquele jardim assombroso.
Consigo assim entrar numa nova viagem… O que será que me espera?

CM
Agosto 2008

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"Viagem"

No pico de uma silhueta que se desenhava no horizonte, lá estavas tu… Grande, magnifica, resplandecente… Bela como sempre!
O brilho que resplandecias ofuscou-me e absorveu-me a mente e transportou-me para o limiar do inatingível…
Doce caminhada, desenhada no vegetal do pensamento, que vagueia nas hipóteses delineadas pelo transeunte.
Amaciada e acarinhada no andar, a viagem deixou-me acorrentada nesse teu olhar, nessa tua magnificência, nessa tua forma de desabrochar a essência de um coração estilhaçado pelos rolamentos de uma ainda pequena vida.
Raios de luz que se fazem circular nas veias e me dão vida, me fazem respirar…
Numa ténue cortina próxima senti-me perto de te tocar, de te sentir, de te descobrir, de te ter… Levemente estendi fragilmente um dos meus franzinos braços, esticando numa busca desassossegada, a mão e por conseguinte os dedos rombos e corrompidos que o acompanharam, acreditando lá chegar…
Que tonta…!
O braço estendido parecia que diminuía em si próprio cada vez que era mais esticado…
O teu fogo assentou na velatura do meu corpo e delineou-o na profundidade daquele imaginário… Que bela estava!
Cansada exausta e perdida na luz incidente deixei-te ir…
Deixei-te fazer parte novamente do universo …
Mas não desisti de te ter…Adiei apenas a loucura de absorver a reminiscência que erradias.
De volta à realidade das sombras, encontro-me no regresso, no fim da viagem!


CM
Julho 2008

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