Brilho penetrante que incide em mim e me trespassa com um desejo insaciável, me aquece e me vigora…
Orlas douradas, que giram no entrelaçar dos nossos corações e nos amarram nos sonhos, como alianças do dia que nos prendem na busca de uma lealdade difícil.
Olhas… e deixas-me olhar…
Cobras…e deixas-me cobrar…
Pedes… e deixas-me pedir…
Entras… e deixas-me entrar…
Sofres, mas não deixas sofrer…
Doce luz que deixas invadir, mas não permites que saia… Prende-la entre vitrais gelidamente aquecidos e devorados por obscuros mistérios!
Escondido à frente, mostrando o que não é, o teu corpo entrega-se e caminha na procura do que não conhece …
Mas, subitamente a tua mente retrai-se e analisa o percurso…
Pequenos murmúrios de paragem surgem na brisa ensurdecedora.
Brisa árida que esbate no rosto, e corta no coração fogaças de pequenos cristais irradiados pelo fogo da paixão…
Tornas a entrar, e o calor do corpo adormecido pela anestesia da mente, expande-se e abraça tudo em volta…
Perde-se na busca de um desejo irremediável e inatingível, devassado pelos picos de um mundo em volta, e por tudo aquilo que a sociedade desperta.
Contudo, a luz do teu olhar não perde força, revigora-se e volta a incidir.
Vejo-te, quero-te e desejo-te…
Tens-me, adoras-me e amas-me … Escondido à frente, mostrando o que não é…
Mas, por entre o arvoredo obscuro da mente, eu …
Vi-te…
Olhei-te…
Desejei-te…
E tive-te… por breves e venenosos instantes…
Raios incandescentes imanaram naquele lugar…
Numa timidez, que me avassalou e derrotou por completo, afastas-te e emergiste num outro mundo.
Perdi a luz do teu olhar e tu mostraste o que não és…
CM
Abril de 2008