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Amarante, Portugal

segunda-feira, 16 de junho de 2008

"Os cavalos também se abatem"

Imaculadamente triste…
Profundamente dilacerada…
Aqui me encontro eu, vislumbrada perante um precipício sem fim, que me suga a alma com uma velocidade subtil.
Uma palavra de fel é solta no ar e perdida no tempo… Observo a sua caminhada e a subtileza do seu voo … Vem devagarinho, bem devagarinho, pousar na minha epiderme… Uma vez pousada e deitada num espantoso à-vontade, entranha-se no corpo aos poucos e poucos, criando um fervilhar na epiderme que vai derretendo-o em pedaços à sua passagem.
A carne é corroída até aos ossos, o corpo pinga sangue …
Trespassada e intoleravelmente fraca e sem mais forças, deixa-se cair num chão absorvido pelo sangue que escorre … e se esgueira por entre frinchas minusculamente pequenas, imperceptíveis a um simples e vulgar humano como tu.
Imaculadamente triste…
Devassadamente perdida…
Lobo preto, que feres e arranhas um doce corpo, rendido a ti, como podes ser tão vil, tão cruel?
Ingenuamente burro, assim és… Não consegues alcançar a beleza que tens nas garras…
Sedento, faminto e ressacado de uma morte sonante, procuras cortar-me as veias e tudo o que ainda me resta para dar…
Encontras em mim uma fonte inesgotável de alimento, mas… Os cavalos também se abatem!
Imaculadamente triste…
Ardentemente cansada!


CM
Junho de 2008

terça-feira, 10 de junho de 2008

"Cor de Laranja"

Nos tormentos da vida, há sempre esperanças dadas…
No negrume da reles existência humana, há sempre verdades sentidas…
Na escuridão do viver, há sempre uma luz que nos guia…
No preto das cores, existe sempre um tom mais forte…
Cor de laranja…
Cor que ilumina e pinta a minha mente, quando esta se esvazia na densidade negra, de uma floresta esgalhada de pernos enferrujados pela chuva ácida, que cai de pequenas órbitas cortadas e ensanguentadas pelo deslizar do gume da navalha…
Nas veias de sangue envenenadas, há sempre um doce licor…
Na mortalha da vida, há sempre um elo de ligação…
Na plenitude da morte, há sempre uma borboleta que voa…
Na clausura da subsistência, há sempre paredes de vidro…
No gelo que estagna o ser, há sempre um fogo que incendeia…
Na passagem para a morte, temos sempre que passar pela vida!

CM
Junho de 2008

segunda-feira, 9 de junho de 2008

"Neblina"

Numa imensidão de feras que me barram o caminho, encontro-te irradiado pelas luzes da mais bela existência do ser humano… Vida!
Tento alcançar-te, por passos de terra firme…
Os meus pés desdobram movimentos, um atrás do outro, perfazendo um caminhar na tua busca.
A terra é pisada numa leveza profunda que provoca um som estridente no contacto com estes elementos que teimam em continuar no alcance do que tu és…
Eles marcam o caminho, deixando para trás o trilho para que outros possam chegar até ti, mas são os únicos que se embrenham no desconhecido de uma direcção que pode devorar-me o corpo … trespassando e rasgando o ser do batimento!
Sentindo o aroma quente, continuo a colocar um e outro pé… numa certeza desconhecida vagueio desorientada na tua direcção!
Numa ténue neblina que ofusca tudo em meu redor, os meus pés continuam a flagelar a incerteza de uma realidade tão visível … No fundo do pano, um vulto surgido no nevoeiro faz-me despertar numa certeza do trilho.
Gelada e metalicamente petrificada por tal imagem, o movimento dos meus pés parece empedernecer!
Sinto o seu aproximar, a atroada do seu caminhar…
Os meus pés, ordenadores do meu corpo continuam cravados! Numa proximidade vil e fatal a imagem nublada revela-se nítida…
O gelo que envolvia o corpo petrificado, quebra-se em minúsculas partículas, pelo ardente calor ao te vislumbrar…
O teu corpo perto, o meu corpo próximo… O toque das minhas mãos nele, onde afinal as débeis garras conhecem as marcas na tua pele.
Num sonhar inatingível a minha mente continua a vislumbrar-te, porque o mundo pertence a quem se atreve a ver-te e a olhar-te!


CM
Junho de 2008


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