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Amarante, Portugal

terça-feira, 17 de novembro de 2009

“Amanhã é outro dia”

Uma noite de luar que ofusca a paisagem e nos acolhe como sua, numa eternidade que consideramos esquecida no tempo… Fazemos parte da lua, a lua faz parte do mundo e o mundo ali é só nosso… Nada mais nos perturba, nada mais nos cativa, no silêncio ensurdecedor que se faz ouvir, no reflexo do teu espelho que nos absorve só a nós.
Espelho de água, que vislumbras no calor gélido da noite, a passagem de dois seres enfeitiçados por uma noite de luar. No aconchego de um espaço, devorando palavras de preceito, saboreamos os rostos, atitudes e deleites de cada um. Num doce e suave olhar de felino observas cada espaço, cada gesto, cada movimento que faço… Que desejas?
Numa vontade inevitável, de um vício maior sou transportada para um perigoso espaço. Tão perigoso e tão despercebido para nós, que não temos consciência do acabamos de fazer. Com uma naturalidade que nos transcende, acedemos a tudo que nos questionamos.
Terrivelmente, como fervorosas facadas que perfuram nossos corpos com um metal frio e pungente, as badaladas do tempo soam aos nossos ouvidos, dilacerando a réstia esperança que transportávamos de que fosse intemporal.
Ainda com mais delicadeza e indiferença da que, quando nos vimos, deixas-me partir, com a sensação de distúrbio no que efectivamente aconteceu…
De volta, numa noite ainda mais negra e toldada, viajo naquela negra faixa que me encaminha até casa.
Não conseguindo com que me esqueça da melodia da tua voz, que insiste em ecoar na minha cabeça…
Não conseguindo com que me esqueça da delicadeza da tua pele, que senti por breves instantes, quando inocente e inconscientemente te toquei…
Não conseguindo com que me esqueça do teu olhar de …
Os anseios vividos e sentidos em cada poro do meu corpo parecem dilatar a cada pensamento emergido, ao invés de sucumbir, com a confrontação do conhecimento.
Subitamente, acordo no silêncio do meu quarto, na consciência do sonho…
Inesperadamente alguém me pergunta se cheguei bem!?...

Queres saber mais? Amanha é outro dia… Quem sabe!

CM
Novembro 2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

“Amanha conto-te o resto”

No limiar de conhecer o que já irrealmente conheço e tão irremediavelmente adoro, desperto as pupilas que não se fecham há dias no ensejo incandescente desse conhecimento.
A ténue neblina da manhã, esconde o morto despertar de uma manhã calma e afagada de Outono. O doce cheiro a orvalho pela manhã estimula a fina cútis que cobre cada pedacinho do meu corpo, elevando os pensamentos para o que me espera.
As dolorosas horas do dia parecem intermináveis para a busca de uma tão almejada noite.
A ansiedade e o aperto no estômago, como uma criança que tem medo do primeiro dia de escola são cada vez mais patentes a cada milésimo de segundo que passa, a cada pulsação, a cada bater do coração…
Embrenhada já na escura e tenebrosa noite que se abate, não consigo deixar de pensar como a mesma pode vir a terminar. A escuridão e precipício que se abate á minha volta torna-se indiferente perante um desconhecido maior.
O rolar dos rolamentos robustos no alcatrão negro e sombrio daquele caminho, tornam-se sons estridentes no aproximar do fim…
Já não consigo controlar o flagício que me absorve perante o que me aguarda. A aproximação e conhecimento são inevitáveis, já não há como retroceder.
O que tanto cobiçamos finalmente aconteceu… Os nossos corpos, cheiros, olhares e toques trocaram-se e depararam-se. A doce e gélida brisa transpôs-nos os rostos e levou-nos com ela numa subtileza pacífica, numa naturalidade assustadora de conhecimento profundo e alegria desmedida.
O traçado de cada minuto era um gracejo de ambos, com a empatia causada, e o aperceber de que cada palavra antes trocada tinha razão de ser…
A profundidade da noite e a envolvência de tudo, adoçava ainda mais a magnificência daquele ensejo. Esquecendo-me da aragem que enregelava o meu corpo, perdi-me por muitos momentos no teu doce e felino olhar, de uma forma avassaladora de um puro desejo que me queimava cada víscera do meu ser, não conseguindo deixar de beber cada palavra, cada gesto, cada som, que tão deliciosamente debitavas.
A profundidade do momento não me conseguia deixar ver a nitidez dos teus desejos e dos teus anseios. Loucura de uma selvajaria nos doces olhares de felino…
A relevância de uma coisa que mal conhecemos é difícil de explicar e de se perceber, muitas vezes causadores de paragens que não pretendemos na realidade.
A dura realidade de fim de tempo aproximava-se a cada segundo e a dificuldade de ir embora era cada vez maior…
O respirar de cada palavra, o desejo ardente de mais e o tórrido olhar de felino encriptava-me ainda mais…

Amanhã conto-te o resto…

CM
Novembro 2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"Linda"

Envolta na neblina da noite negra que se abate no horizonte, segues-me e guias-me em mais uma caminhada angustiante e tenebrosa que faço até ao meu cubículo, ao qual tenho a vesânia e respeito de chamar casa.
Imersa numa profundidade de luz sobre o negro das trevas, encandeias as pequenas órbitas cintilantes que brilham no reflexo da tua luz.
Hipnotiza-as e fá-las estimular para um mundo absorvido pelo pensamento de um transeunte que insiste em sonhar que há estrelas no mar e água no céu…
Atenta a cada passo meu, não descolas desse painel pintado no céu, fazendo lembrar uma verdadeira tela saída do imaginário infindável de um qualquer artista.
O cerração que te envolve, torna-te maior e com poder de conseguir alcançar tudo o que te rodeia. A neblina torna-te mais misteriosa e intrigante a quem ousa olhar-te. Parece que inocentemente a rasgas por dentro, entranhando nas suas vísceras o poder da tua luz que imerge através dela.
Farrapos que caem em mim e se colam no meu corpo e derretem como ácido, que se vai infiltrando na epiderme a cada segundo que passa. A pele fervilha e derrete perante tal toque, que se sente impotente com tamanha grandiosidade. Sem conseguir evitar o ácido que fere e corrói o corpo, deixo-me ir…
A luz é cada vez mais intensa e a escuridão que te envolve é cada vez mais dúbia. A negra neblina da noite parece a cada segundo que cessa, mais presente. Sem vontade de lutar, as pequenas células que ainda respiram, são puxadas para a cegueira de tamanha luminosidade.
Com o corpo quase trespassado pelos farrapos e numa forma de subjugação submeto-me a ti, cansada, exausta e vencida, por tamanha impetuosidade … levas-me contigo, mártir da noite, vilão da escuridão.
Tempo depois, ainda existem gotas de sangue que escorrem ali naquele local, onde o meu corpo ficou mórbido e imóvel, sob os pingos da chuva que faz com que esse alimento se espalhe naquela terra infértil, sedenta de apetite…O meu sangue é um deleite para tamanha fome…
Negra neblina da noite que me libertaste e me levaste contigo, apaga esses vestígios visíveis a quem os consegue ver.
Como aço gélido que queima a quem ousa olhá-la desaparece inexplicavelmente, e eu com ela!

CM
Novembro 2009

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