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Amarante, Portugal

quinta-feira, 29 de maio de 2008

"Aqui moro eu"

Longe de tudo, perdida e esquecida, moro eu …
Trancada nas trémulas entranhas do coração, que palpita…
Num sôfrego bater, longe de tudo, mas perto de mim! Aqui estou eu…
Numa ansiedade que me dilacera a alma e me consome o corpo, vejo-me perdida e enclausurada nesse teu olhar penetrante dono de mim mesma, que me invade as memórias de outrora …
Num quente observar das colinas que se avizinham diante de nós, como se, se afastassem num tormentoso caminhar da lonjura, somos chamados a lá habitar.
Buraco, longínquo e impenetrável, apetecível de viver, clama gritos de loucura numa ânsia de nos ter!
Picos emergentes de um fundo sem término, sem corpos desgastados e mutilados pela história, de onde se deslindam os segredos mais esquecidos e escondidos pelo passar dos anos e séculos!
Numa voz que estremece a fina redundância dos cumes desnudados desta terra, estonteante som incentiva-nos a mergulhar neste plácido, fino e espesso negrume que nos esconde a mente dos olhares indiscretos transmitidos para fora do mundo que julgamos irreal e imparcial ao que estamos a viver.
Perto de mim, mas longe de tudo, a voz sonante esbate pequenos tosados nas frágeis aurículas do meu ser e consome tudo o que a estrela magnata dos sonhos me deixa elevar!
A lonjura de um tão perto estar, gela o fogo imanado dos poros de uma epiderme, transpirada, ardente e chamativa de um acto infernal de todo não impossível, não pela certeza do longe, mas sim pelo absoluto do perto!
Camada fina de transeuntes que esvaída em suor se esgota na sua essência de ser tão credível e tão translúcida para quem a vislumbra.
Ténue cortina abrange a sua separação…
A transparência imitada deixa vislumbrar uma adoração de divindade inexistente a todos os outros, mas aclamada como um doce veneno por ele… Percorrendo o vadio olhar pelo corpo aveludado e derretido, não pelo toque, mas pela essência, a capacidade do controle torna-se mais numa devassa certeza do profano…
Longe de tudo, mas perto de mim!
Aqui estou eu!
Aqui moro eu!

CM
Maio de 2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

“Andarilho da sombra”

No andarilho da sombra bate irrepetivelmente como quem chama por ela!
Bate tão constantemente, que o barulho ensurdecedor do seu coração bloqueia o silêncio cravado naquele espaço contíguo…
O bater constante no mais profundo do seu ser, deixa transparecer um cansaço inevitável, uma perda certa e um retorno ao passado!
Tempos de lágrimas vis, que derretiam o rosto e inchavam as orbitas cintilantes e cegas por uma luz que escurecia tudo em volta.
O andarilho da sombra voltou…
O pequeno corpo imaculado, sente-se estropiado por escorpiões negros que lhe trespassam o ser… Doce veneno penetrado no mais ínfimo ser da sua alma…
Cansada, vencida, pela luta travada no tempo secular de uma vida perdida, olha o mundo em seu redor, e volta a morrer!
A sombra da morte é a luz do seu caminho!
Os passos que dá formam pequenos círculos, que ao caminhar picam no mesmo chão gasto e absorvedor da essência dela…
Em certos momentos como por alívio os círculos, parecem pequenas ogivas, que amainam a realidade. A dor que habita no corpo, feita por espetos de um duro e frio metal em chama, anestesia-a.
Mas, como em todas as amplitudes da vida, o obtuso do ângulo nem sempre é a sua maior rotação…
As contas matemáticas, de números reais que parecem imortais nem sempre batem certo…
O andarilho da sombra voltou!

CM
Maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

“Resumido Lugar”

Tórpidas batidas que ecoam naquele resumido lugar e lhe estropiam o corpo…
Palavras dissecadas pelo odor de insensatez que lhe estrangula a mente e lhe lacera a existência.
Tudo se abate, tudo se dilui…
Tudo está certo e nada é assim!
Os sons enérgicos e cortantes pairam naquele resumido lugar! Não se abaixam e não se deixam abater, mantêm-se erguidos, com uma força imensurável…
Cortam-se, apunhalam-se, esbofeteiam-se, … mas não dão de si!
O ar gélido que aquece os transeuntes derretidos pelo ácido que lhes escorre na alma paira naquele resumido lugar, como se de um nevoeiro se tratasse…
Estão cegos e consumidos pela acidez do veneno que lhes corre nas veias e lhes dilacera os corações.
Entre bruscas pancadas, surgem lágrimas que escorrem como rios agitados pela agressividade do vento, que se entranha no mais profundo dos seus seres…
São faces molhadas pelo orvalho da tempestade que se abatem naquele resumido lugar.
Já enclausurada numa agonia que estraçalha tudo o que conhece como certo, sente pequenas picadas no corpo, que no seu leve contacto, esguicham o sangue arrecadado nas veias, que se vangloriza na sua libertação.
Submissa, ouvindo pequenos batimentos de morte no peito, é trespassada nas entranhas pela devassidão da noite, cai por terra…
Adormece e acorda novamente, mais uma vez…

CM
Maio de 2008

sábado, 3 de maio de 2008

"Trémulo corpo"

Trémulo corpo, esvaído
Perdido na sombra
Abafado pelo odor da ressaca,
Pintada na epiderme,
Transpirado por gotas
De um venenoso orvalho
Fresco da manhã
Que refresca o dia
Picado por lâminas afiadas
Que cortam suavemente
Um fio fino do teu corpo …
Trémulo corpo, esmagado
Contra o muro metálico
Suavizado pelo frio
Que aquece os pensamentos
De quem enxerga
A devassidão do dia
Que nasceu para todos
E para ninguém.
Que está preso
Por correntes de elos abertos
Que marcam o corpo…
Trémulo corpo, molhado
Pelo sangue que lhe deu vida
E a fez viver
Num mundo que a amou
E que a odiou
Que a desejou
E lhe deu rosas
De pétalas negras
Que enfeitam o seu caminho
E a guiam na direcção do Inferno!
Onde o corpo gelidamente aquecido,
Emana imponente…
Trémulo corpo, silenciado
Pela notícia
De um fim de vida
Que se esfaima no horizonte
No ouvir silencioso
Dos corvos e abutres
Que dissecados pela fome
Despedaçam e deliceram
O CORPO…
Corpo trémulo…
Corpo…
Corp…
Cor…
Co…
C…


CM
Maio de 2008

sexta-feira, 2 de maio de 2008

“Bolas de Sabão”

Matéria que se derrete no frio da montanha, entorpecida pelo calor do sol que se abate sobre ela. É nesta visão de deslumbramento que se perde o transeunte na busca de uma existência…
Picos e faíscas de cor iluminam a sua mente e resvalam na beleza picotante da gélida infusão de calor que se abate sobre ele!
Sentindo uma nítida e fogorosa atracção profana, pela pintura desenhada na humidade do calor do dia, as bolas de sabão flutuam no ar, deixando atrás de si o aroma, do desejo de lá chegar…
Bolas de sabão…
Envolvido e entrelaçado numa corda de picos de rosas, pingando doces gotas de sangue, espera por ele do outro lado…
Cega,
Impedida de ver pela luz que lhe corta o olhar …adormece…
Adormecida no recanto das húmidas bolas de sabão, deixa transparecer o culminar que aquele corpo já teve…
… os corpos que se aproximam amarrados pelo poder da atracção, estão próximos.
A intensidade do momento é vigorante e submissa…
Pedem num simples vislumbrar deles mesmo que aquele momento se torne num tempo secular…
Na imagem da sua retina tudo pára, como se só eles vivessem, tudo está estático, parado no tempo. O movimento só existe, neles!
Momentaneamente e sem poder travar as pernas atadas, tacteando-lhe o corpo numa busca infernal… procura...
No toque de cada tecido de pele, no aveludado corpo, sente-lhe o calor da epiderme a emergir em gélidas gotas de sabão…
Percorrendo o caminho, onde as queridas mãos morenas lhe tinham traçado o nome, entrega-se na fogorosa abertura de um clímax tão pedido e desejado!
Teu corpo, meu corpo…
Tudo o que o transeunte sonha na penumbra da noite!
Ploc…
Não resistindo à transparência das bolhas, finas e frágeis…
Ploc…ploc…
Explodem …
Acordada com as picadas destas ponteiras fica feliz. Uma última bola de sabão esbate-lhe no rosto… e humedece a essência, como sinal do acordar de um sonho.

Continuando na caminhada da sua existência, revigora-se…
Um dia, nascerás…
Um dia, viverás…
Um dia, serás…
Serás meu, como eu sou tua…
Um dia, verás…
Verás, como és meu…
Um dia, descobrirás…
Descobrirás, que me amas,
Como eu te amo a ti.
Um dia, as bolas de sabão…
As bolas de sabão, serão bolas de sabão…

CM
Maio de 2008

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