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Amarante, Portugal

segunda-feira, 17 de março de 2008

“Na Realidade dos Sonhos”

No doce caminhar do infinito saber, descubro que o que nos oferecem não é o limite, é o inicio do princípio! Vagueando por ruelas desconhecidas, vou percorrendo caminhos escondidos no meu subconsciente… Percorro…
As paredes são frias, nuas, sem vida a revelar… Toco e os meus dedos enregelam-se com a aridez da transparência do seu nada.
Os meus pés continuam a deslocar-se…
Caminhos abertos pela vontade devastadora do nada! Paredes que reflectem uma frieza robótica, fleumáticas, onde o pensamento do transeunte procura o calor do sangue, nas vielas desta rua, que parece manter-se impenetrável no calor da chama.
Os passos continuam num murmúrio, que chocam com os ressaltos de gotas vermelhas, do trilhar do chão manchado pela chuva ácida, que derrete a sola das botas, e que se entranha nos pés, dilacerando-os e empedernecendo todo o meu corpo.
Invadido pelo ácido, o meu corpo desgasta-se entranhado por injecções de um líquido cortante que derrete tudo à sua passagem. Subitamente, uma seringa espeta-se no meu íntimo, fico petrificada pela penetração do elemento afiado, estéril e perfurante que mergulha no meu corpo a claridade de um relâmpago e produz como choques electromagnéticos, vida em mim…
Os movimentos comandados pelo meu corpo, ordenados pelo meu cérebro param… Os meus olhos são cortados por lâminas que fazem brotar raios de luz, perante o que surge naquela picada afiada de pecado.
Vislumbro no teu olhar o forte desejo de me possuir, de me teres junto de ti, no calor da tua sôfrega paixão… Sinto a delicadeza do teu ser a puxar-me para um abismo infernal… Desnorteada, ferida e com o corpo derretido pelo ácido, deixo-me ir…
São só mais dois passos, o movimento dos meus pés, revelam-se novamente nos charcos vermelhos da chuva ácida…
Em meu redor as paredes frias e cinzentas, tomam agora um tom “rouge”, transpiram, escorrem, vislumbradas pelo odor, calor e ardente desejo que se magnetiza entra elas.
O meu corpo colou amparado no teu peito…
Ouço o teu coração a palpitar num ritmo que suga o meu próprio respirar. O teu apertar trespassa o meu ser, rasga a minha pele com incendiado desejo, penetrando na revolta incessante de me fruir. Parecem punhais afiados a cravarem todo o meu corpo, que flagra como línguas de fogo.
Ardente, sedento de paixão, o respirar está ofegante e no fundo daquele beco negro e sombrio resplandece tudo em seu redor… Ficamos assim por momentos, parados no tempo, como se de uma fotografia se tratasse, imóveis sem conseguir repelir a sanguessuga que se abate naquele lugar.
Petrificados pela ausência de tempo entre nós, não damos conta que a terra gira em volta de si mesma…
A gélida e ardente brisa que corre entre nós junta-nos e afasta-nos ao mesmo tempo como se de um ioiô se tratasse, é um cortar afiado e uma sucção das veias e do coração que se altercam para sobreviver a um insistente chamamento. O olhar de fogo que se abate em mim, brilha como relâmpagos que me ferem os olhos e partem-se como cristais, incapazes de resistir a tal poder de desejo.
A temperatura escala, a maior profanidade é inevitável…

Subitamente, a luz clareia… o despertador toca…

A mente traz-nos durante a noite os sonhos da realidade … Sonhos de um anseio real!
Os meus pés tornam-se a mover, agora para a realidade da vida de todos os dias.

CM

Março 2008

1 comentário:

Anónimo disse...

Um texto muito bom, já me passas...
Para continuares, dá uma olhadela numa das melhores músicas de sempre . . .
Deve dar para pensar em mais qualqer coisita.

http://br.youtube.com/watch?v=WgE6847TsFs&feature=related

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